MEMÓRIAS DO PAN: HÉLIO RUBENS, UM CAMPEÃO COMO TÉCNICO E JOGADOR

Written By Podio Sport on quarta-feira, 6 de maio de 2015 | 12:01


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Rio de Janeiro, RJ – Famoso pela grande capacidade de motivar sua equipe, o ex-jogador e ex-técnico da Seleção Brasileira, Hélio Rubens Garcia, de 74 anos, teve seu nome marcado em dois grandes momentos dos Jogos Pan-Americanos. Como jogador, foi medalha de ouro dos Jogos de Cali (Colômbia / 1971) e como técnico comandou a equipe nacional na conquista do título dos Jogos de Winnipeg (Canadá / 1999).

"Eu posso afirmar com clareza que isso tudo é fruto de um trabalho em grupo. Quando essa coletividade existe, quando as pessoas se motivam, isso tudo flui naturalmente. Há um ditado que diz: “qualquer que seja seu estado de espírito a motivação se induz e, através dela, você se equilibra emocionalmente”. Então, as vitórias e os títulos vieram através do segredo de acreditar e reagir. O trabalho basicamente é isso. O conceito de vida é o que dirige a vida. Quando existe essa filosofia isso pode ser incorporado no seu espírito, então é só colocar em prática", contou Hélio Rubens ao analisar sua trajetória na Seleção Brasileira.

Experiência não faltava a Winnipeg. A cidade canadense organizava o evento pela segunda vez para receber os mais de cinco mil atletas participantes. Recuperada da má campanha no Torneio Pré-Olímpico de Porto Rico (1999), a Seleção Brasileira foi para Winnipeg desacreditada, levou a medalha de ouro ao repetir o feito histórico do Pan de Indianápolis 1987.

"Depois de termos perdido a vaga para os Jogos de Sydney (2000), disputamos o Pan 20 dias depois. Parte da delegação deixou o basquete de lado, mas sabíamos da importância do Pan e da nossa renovação de valores. O espírito da equipe de comprometimento, confiança e amizade ainda era uma coisa positiva. Saímos de Porto Rico e fomos direto para Winnipeg e lá ganhamos de seleções que havíamos perdido menos de um mês antes. O clima foi cada vez melhorando e o entusiasmo aumentando", lembra Hélio.

Na final, o Brasil derrotou os Estados Unidos (95 a 78) e se sagrou campeão, mas teve que contar com a ajuda e o empurrão de um desconhecido jovem canadense. 

"Antes de disputar a final, o Brasil foi a equipe que havia perdido para os Estados Unidos pela menor diferença (73 a 71). Sabíamos que isso aumentava nossas chances. Fomos em frente, mas sabendo o que iríamos enfrentar. No caminho para a final, o nosso motorista era um jovem voluntário loiro e muito bem humorado, com o ideal de servir. Ele deu um tapinha na bunda de todos os jogadores ao entrarem no ônibus. Achamos a atitude estranha, mas apenas rimos e pensamos que o motorista era legal. No caminho, ele diminuiu a velocidade e pegou o microfone de guia e começou a perguntar em voz firme "quem vai ganhar esse jogo hoje?". Todos ficaram calados, mas quando ele perguntou pela terceira vez pedi que respondessem, pois iríamos perder por WO se não chegássemos logo no ginásio. Mas apenas três jogadores responderam, mesmo assim ele não desistiu e perguntou até que todos respondessem. Quando todos gritavam Brasil, Brasil é que ele acelerou e fomos rumo ao ginásio", relembra Hélio. 

"Chegando ao ginásio outro tapinha na bunda dos jogadores. E no aquecimento, lá estava nosso motorista com o braços levantados mostrando que estava ali torcendo pela gente. Conversei com os jogadores e disse que não importava o resultado, mas que iríamos para o tudo ou nada. A partida foi fantástica. Jogo duro nos 40 minutos. Com o Brasil a frente do marcador, fomos para o último pedido de tempo. Apontei para o banco dos Estados Unidos e mostrei que eles estavam com medo de perder. Era o nosso momento e ganhamos. Na premiação, a delegação brasileira no Pan entrou em quadra para abraçar a desacreditada equipe e chegou a atrapalhar a premiação. Na volta para a concentração, lá estava o nosso motorista com um sorriso enorme. Ele foi tão importante para nosso resultado que o Rogério (Klafke) tirou a camisa e deu para ele. Se ele não tivesse agido daquela forma, entraríamos em quadra com o mesmo medo que nos mantinha calados no ônibus e talvez tivéssemos perdido. O relaxamento mental foi importantíssimo para aquele momento e conquista", completou o treinado

Mas essa não foi a primeira vez que o treinador subiu no degrau mais alto do pódio no Pan-Americano. Há 44 anos, nos Jogos de Cali (Colômbia / 1971), competição que marcou a ascensão de Cuba no cenário continental, Hélio Rubens recebeu a primeira medalha brasileira masculina nos Jogos Pan-Americanos, mas como um dos 12 jogadores. 

"Se aquele dia alguém me falasse que 31 anos depois daquele dia eu iria ganhar outra medalha nos Jogos Pan-Americanos, eu diria que essa pessoa era louca. Sempre tive um orgulho muito grande de representar o Brasil e na estrutura nacional o que vale é ser campeão. Foi um momento inesquecível, pois essa foi a primeira medalha do basquete masculino nos Jogos Pan-Americanos".

Cestinha com 121 pontos, em oito jogos, Hélio se emociona ao relembrar os momentos marcantes da vitória por um ponto sobre Cuba (63 a 62) que deu ao Brasil a primeira medalha masculina na história da competição.

"Foi fantástico. Cuba possuía uma equipe fantástica, que conquistou o bronze no ano seguinte nos Jogos Olímpicos de Munique (1972). No Pan em Cali, eles desbancaram os Estados Unidos e o Brasil estava com uma equipe muito boa. Eu estava com 31 anos, no auge da minha forma. No dia da decisão, os cubanos ficavam correndo na nossa frente para mostrar a forma física deles, mas ainda faltavam quatro horas para a partida. Fomos para o jogo, mas fazia um calor absurdo. Foi um jogo duro, com os cubanos fazendo pressão quadra toda. O calor era tanto que eu secava o suor no chão antes do lance livre. No final da partida fui para a linha do lance livre e converti os dois e abrimos um ponto na frente deles, que erraram a cesta do ataque e perderam a partida. Nós levamos a medalha de ouro e fomos para a comemoração".

Nascido e criado em Franca, interior de São Paulo, Hélio Rubens Garcia atuou como jogador também nas conquistas de títulos importantes como o vice-campeonato no Mundial da Iugoslávia (1970), os bronzes nos Mundiais das Filipinas (1978) e do Uruguai (1967), além dos bronzes nos Pan-Americanos na Cidade do México (1975) e em San Juan (1979). 


 
Participações em Jogos Pan-Americanos 

- Como jogador
. 7º lugar em Winnipeg (Canadá - 1967) – 2pts / 5 jogos
. medalha de ouro em Cali (Colômbia - 1971) – 121pts / 8 jogos
. medalha de bronze na Cidade do México (México - 1975) – 63pts / 9 jogos
. medalha de bronze em San Juan (Porto Rico - 1979) – 46pts / 7 jogos

- Como técnico
. medalha de ouro em Winnipeg (Canadá – 1999) 

XIII JOGOS PAN-AMERICANOS  

Local: Winnipeg - Canadá
Data: 30 de julho a 08 de agosto de 1999   

Delegação do Brasil
André Luís Guimarães Fonseca "Ratto" (17), Aristides Josuel dos Santos (56), Aylton Tesch Cardoso Junior (34), Caio Eduardo de Mello Cazziolato (56), Demétrius Conrado Ferraciu (35), Hélio Rubens Garcia Filho "Helinho" (43), Marcelo Magalhães Machado "Marcelinho" (34), Michel Ferreira do Nascimento (8), Rogério Klafke (68), Sandro França Varejão (38) e Vanderlei Mazzuchini Junior (60). Técnico: Hélio Rubens Garcia. 

Campanha do Brasil
Brasil 102 x 72 República Dominicana
Brasil 71 x 73 Estados Unidos
Brasil 86 x 72 Cuba
Brasil 95 x 85 Porto Rico
Brasil 95 x 78 Estados Unidos  

Classificação final
1º- Brasil; 2º- Estados Unidos; 3º- Porto Rico; 4º- Argentina; 5º- Canadá; 6º- República Dominicana; 7º- Cuba; 8º- Uruguai.


A I / CBB
Foto / CBB / Divulgação

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